Muito
se tem falado no poder persuasivo de uma mulher. Encanto, charme, beleza,
cheiro; que fenômeno é esse que deixa o homem alucinado, a ponto de fazer sua
vontade? Todas essas características tinham Ester. Uma mulher extremamente
formosa que encantou o coração do rei. É sobre isso que irei discorrer neste
estudo.
Pois
bem. No passado havia um monarca muito poderoso chamado Assuero que reinava
desde a Índia até a Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias. Sua esposa
se chamava Vashti. No terceiro ano do seu reinado, Assuero convidou todos os
príncipes das outras províncias para lhes mostrar a riqueza e magnificência do
seu reino.
Terminado
esse período, o rei estendeu o convite a todo o povo de Susan, sede do trono,
para grandes festejos, durante uma semana, nos jardins do palácio. Ao mesmo
tempo, a rainha Vashti reunia as esposas de todos os hóspedes do rei também
para grandes festas no palácio.
No
sétimo dia das festividades, o rei achou que devia exibir o que possuía de mais
precioso: a sua rainha. Mandou chamá-la para ressaltar sua beleza. Ao receber o
chamado, porém, Vashti firmemente se recusou.
Quando
os eunucos voltaram sós e transmitiram a recusa da rainha, Assuero sentiu-se
desrespeitado e humilhado ante o povo. Ao saírem os convidados, consultou os
seus ministros: "Que atitude devo tomar com a rebelde Vashti?" A
resposta foi unânime e imediata: "Despojá-la da coroa e coroar outra
esposa. A atitude dela é imperdoável. Seguindo o seu exemplo, as outras
mulheres desobedecerão aos maridos e é uma vergonha para nós porque cada homem
deve ser o senhor na sua casa".
Foi
difícil para Assuero tomar tal decisão porque a amava muito e por esse motivo passou
bastante tempo apaixonado, chorando a sua ausência. Porém, seus ministros
insistiam para que fosse eleita outra rainha. Outra mulher tão bela como Vashti
faria com que ele a esquecesse. Foram então postos editais em todas as
províncias convocando as moças do reino para que o rei escolhesse a substituta
de Vashti.
Naquele
tempo havia um homem chamado Mordecai, oriundo de Jerusalém, residente em
Susan. Esse homem criara como sua a filha de um tio, órfã de pai e mãe.
Chamava-se Ester. Era lindíssima. Ao saber do edital, Mordecai, achando que
moça alguma poderia ser mais bela do que Ester, resolveu escondê-la.
Comunicando-lhe sua decisão, recomendou: "Se fores escolhida não digas que
és do povo judeu". Esther prometeu obedecer, mas no íntimo desejava ser
rejeitada porque não trocaria por trono algum a liberdade de escolher quem seu
coração elegesse.
Sua
esperança era que o rei preferisse outra moça entre tantas e tantas que lhe
eram apresentadas. Mas o tempo passava sem que Assuero coroasse nova rainha. A
saudade de Vashti apagava a beleza das candidatas. Nenhuma lhe agradava. Até
que chegou Ester. Foi amor à primeira vista. Sete anos haviam passado desde a
deposição de Vashti até que enfim Ester ocupasse o trono.
Entretanto
Mordecai passava os dias andando ao redor do palácio para ter notícias da sua
filha adotiva, já então rainha. Foi assim, nessas rondas, que ouviu dois
eunucos confabulando sobre uma conspiração contra o rei. Imediatamente mandou
comunicar a Ester. Ela tomou as providências devidas e foram punidos aqueles que
tramavam derrubar Assuero. Essa atitude de Mordecai foi anotada nas
"Crônicas Diárias" do reino.
Naquele
tempo, a pessoa mais importante no reino, depois do rei, era Haman, que gozava
de poderes especiais, recebendo honrarias, entre elas, por lei, que todo
indivíduo se curvasse e se prostrasse à sua passagem. A lei era rigorosamente
cumprida. Todos curvavam-se, prostravam-se, com exceção de uma pessoa:
Mordecai, que não dava a menor importância a Haman.
Ao
notar o desdém de Mordecai, Haman encheu-se de ódio, não somente contra ele,
mas contra todos os judeus. Denunciou os judeus a Assuero, acusando-os de terem
costumes próprios e não obedecerem às leis do rei e aconselhando-o a
exterminá-los. Conseguiu que Assuero ordenasse em todas as províncias do reino,
que todos os judeus adultos e crianças fossem executados em um só dia.
Ao
ouvir a notícia da tragédia que ele próprio provocara, Mordecai correu para Ester,
mandando que ela fosse suplicar ao rei piedade para o seu povo. Era uma ordem
difícil de ser cumprida porque ninguém tinha o direito de entrar no pátio que
precedia o salão do rei sem ser por ele convocado e quem o ousasse seria morto.
Mas Mordecai insistiu e Ester criou coragem.
Primeiro convocou seu povo, com a ajuda de
Mordecai, pedindo a todos que jejuassem para ajudá-la em sua difícil missão. A
seguir, vestiu-se com os paramentos reais e postou-se no pátio em frente ao
salão real. Vendo-a, Assuero sorriu, acenando o cetro como sinal de que a
receberia. Chamou-a para que se aproximasse. Perguntou-lhe: "O que tens,
rainha Esther, qual é a tua petição? Até metade do reino te será dado".
Então Ester respondeu que apenas vinha convidá-lo para um jantar em que Haman
também comparecesse. O rei aceitou, rindo-se de tão simples petição.
Quando
recebeu o convite, Haman rejubilou-se. Achava-se tão importante que até a
rainha o distinguia, convidando-o junto com o rei. Mas disse à sua esposa e aos
filhos: "tudo isto não me satisfaz enquanto vir Mordecai sentado à porta
do palácio". "Então mande enforcá-lo", falaram todos. Era
justamente o que aconteceria em breve, esperava Haman; não só Mordecai; mas todo
o seu povo deixaria de existir.
Aconteceu
que, nessa mesma noite, o rei padecendo de insônia, pediu que lhe lessem as Crônicas
Diárias onde era assentado tudo o que acontecia no palácio. Ao ouvir o caso da
conspiração tramada contra ele e de como Mordecai o salvara, quis saber que
recompensa tinham dado a esse homem. "Nenhuma", responderam. Nesse
momento chegou Haman e o rei consultou-o: "Que se fará ao homem a quem o
rei está agradecido?" Pensando que esse homem só poderia ser ele, Haman
propôs: "Que esse homem vista o traje real, use a coroa, monte o cavalo do
rei e seja levado pelas ruas, apregoando-se: "Assim se faz ao homem a quem
o rei está grato".
Então
disse Assuero: "apressa-te, veste Mordecai e leva-o pelas ruas, como
disseste". E Haman teve que cumprir as ordens do rei. Mas terminado o
passeio pela cidade, voltou para casa furioso e contou à família o que lhe
havia acontecido.
No
dia seguinte, quando se realizava o banquete de Ester, com a presença do rei e
de Haman, Assuero perguntou novamente: "Qual é a tua petição, rainha Ester?
E qual o teu requerimento? Até metade do reino te será dado". Ester ergueu-se para dar mais ênfase às suas
palavras: "Dê-me minha vida como petição e a do meu povo como
requerimento. Porque estamos vendidos, eu e meu povo, para sermos
destruídos".
O
rei também se levantou indignado: "E onde está aquele cujo coração o instigou
a assim fazer?" E disse Ester, apontando para Haman: "O homem, o
inimigo, o opressor é este".
Surpreendido
e abalado por essa revelação contra o homem que ele mais prezava, Assuero
retirou-se para o jardim. Então Haman atirou-se aos pés de Ester, pedindo
misericórdia. Ao reentrar, Assuero, deparando com Haman ajoelhado diante de sua
esposa, ficou furioso e mandou prendê-lo.
Nesse
mesmo dia, a pedido de Ester, o rei revogou a lei que decretava o extermínio de
todos os judeus e mandou chamar Mordecai; deu-lhe o anel que havia retirado de
Haman, empossando-o na posição que o inimigo ocupara. Mordecai saiu do palácio
usando o manto azul e branco, levando, na cabeça erguida, a coroa de ouro.
Seu
primeiro ato como ministro foi decretar que os judeus preservassem como
feriado, para sempre, os dias 14 e 15 do mês de Adar, dias esses em que a
tristeza se transformou em alegria. Que os celebrassem com banquetes, troca de
presentes entre a família e amigos, e dádivas aos pobres. E como nesses dias
foi decidida a sorte dos judeus, os mesmos fossem chamados Purim.
Pois
é. O encanto de Ester fez com que a maldição do povo se tornasse em benção. Sua
beleza fenomenal e seu poder persuasivo fez com que o rei atendesse ao seu
pedido e fizesse com que o seu nome ficasse registrado na história, como sendo
a mulher que encantou o coração do rei.
É
o que tem a dizer,
Eudes Borges.
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