O carnaval é, sem
dúvidas, uma das mais conhecidas festas populares do mundo, e é totalmente
contrário aos valores cristãos. Tida como sendo uma festa de manifestação
folclórica e cultural do povo brasileiro.
Mas onde e como
teve início o carnaval? Qual tem sido a sua trajetória, desde o seu princípio
até os dias atuais? Existem elementos éticos em sua origem?
Pois bem.
A palavra
carnaval deriva da expressão latina carne levare, que significa abstenção da
carne. Este termo começou a circular por volta dos séculos XI e XII para
designar a véspera da quarta-feira de cinzas, dia em que se inicia a exigência
da abstenção de carne, ou jejum quaresmal.
O Papa São
Gregório Magno teria dado ao último domingo antes da quaresma, ou seja, ao
domingo da qüinquagésima, o título de dominica ad carnes levandas; a expressão
haveria sido sucessivamente abreviada para carnes levandas, carne levamen, carne
levale, carneval ou carnaval.
Hoje, ao
carnaval estão relacionadas as festas e manifestações populares dos mais
diversos povos, tais como o purim, judaico, e as saturnálias e as caecas, babilônicas,
manifestações que contribuíram muito para o carnaval atual.
A real origem do
carnaval é um tanto obscura. Alguns historiadores assentam sua procedência
sobre as festas populares em honra aos deuses pagãos Baco e Saturno. Em Roma,
realizavam-se comemorações em homenagem a Baco (deus de origem grega conhecido
como Dionísio e responsável pela fertilidade. Era também o deus do vinho e da
embriaguez). As famosas bacanais eram festas acompanhadas de muito vinho e
orgias, e também caracterizadas pela alegria descabida, eliminação da repressão
e da censura e liberdade de atitudes críticas e eróticas.
Outros
estudiosos afirmam que o carnaval tenha sido, talvez, derivado das alegres
festas do Egito, que celebravam culto à deusa Isís e ao deus Osíris, por volta
de 2000 a.C.
A ligação desta
festa com o povo romano tornou-se tão sólida que a Igreja Romana preferiu, ao
invés de suspendê-la, dar-lhe uma característica católica.
O primeiro baile
de carnaval realizado no Brasil ocorreu em 22 de janeiro de 1841, na cidade do
Rio de Janeiro, no Hotel Itália, localizado no antigo Largo do Rócio, hoje
Praça Tiradentes, por iniciativa de seus proprietários, italianos empolgados
com o sucesso dos grandes bailes mascarados da Europa. Essa iniciativa agradou
tanto que muitos bailes o seguiram. Entretanto, em 1834, o gosto pelas máscaras
já era acentuado no país por causa da influência francesa.
Ao contrário do
que se imagina, a origem do carnaval brasileiro é totalmente européia, sendo
uma herança do entrudo português e das mascaradas italianas. Somente muitos
anos depois, no início do século XX, foram acrescentados os elementos
africanos, que contribuíram de forma definitiva para o seu desenvolvimento e
originalidade.
Nessa época, o
carnaval era muito diferente do que temos hoje. Era conhecido como entrudo,
festa violenta, na qual as pessoas guerreavam nas ruas, atirando água uma nas
outras, através de bisnagas, farinha, pós de todos os tipos, cal, limões,
laranjas podres e até mesmo urina.
Quando toda esta
selvageria tornou-se mais social, começou então a se usar água perfumada,
vinagre, vinho ou groselha; mas sempre com a intenção de molhar ou sujar os
adversários, ou qualquer passante desavisado. Esta brincadeira perdurou por
longos anos, apesar de todos os protestos. Chegou até mesmo a alcançar o
período da República. Sua morte definitiva só foi decretada com o surgimento de
formas menos hostis e mais civilizadas de brincar, tais como o confete, a
serpentina e o lança-perfume. Foi então que o povo trocou as ruas pelos bailes.
Como em qualquer
manifestação popular, o carnaval também se utilizou de formas simbólicas para
aguçar a criatividade do povo e, conseqüentemente, perpetuar sua história. As
fantasias apareceram logo após as máscaras, por volta de 1835, dando um
colorido todo especial à festa. Com o passar dos anos, as pessoas iam perdendo
a inibição e as fantasias, que a princípio eram usadas como disfarce (por serem
quentes demais), foram dando lugar a trajes cada vez mais leves, chegando ao
nível que vemos hoje, de quase completa nudez. Independente das mudanças, os
grandes bailes, portanto, permaneceram realizando concursos de fantasias,
incentivando a competição entre grandes figurinistas e modelos.
Como já foi
citado, o primeiro baile de carnaval no Brasil foi realizado em 1841, na cidade
do Rio de Janeiro, e, desde então, não parou mais. No começo eram apenas bailes
de máscaras e a música era a polca, a valsa e o tango. Havia também coros de
vozes para animar a festa. Nota-se que nem sempre foi tocado o samba, mas modinhas.
Os escravos contribuíram com o carnaval com um estilo de música chamado lundu,
ritmo trazido de Angola. Tal ritmo, no entanto, por ser considerado indecente,
limitava-se apenas às senzalas. Contudo, permaneceu durante todo o século XIX.
Com esta fusão
de ritmos nasce o semba, uma expressão do dialeto africano quibundo. Essa
expressão passou por uma culturação e se tornou o que chamamos hoje de samba. O
samba se popularizou nos entrudos, pois em sua origem este ritmo não era
propriamente música, mas uma dança feita nos quilombos. Todo este contexto
histórico nos leva até os anos 20, ocasião em que nasce aquilo que hoje é
chamado de a excelência do samba, ou seja, o samba de enredo.
O carnaval hoje
conta com bailes de todos os tipos, como o baile à fantasia, baile da terceira
idade, matinês para crianças, bailes de travestis, entre outros. Os embalos
musicais destes bailes contam com o bater dos surdos e o samba é o ritmo
predominante. Também toca-se axé music, um estilo baiano. No carnaval hoje não
se dança mais, pula-se.
Devido à sua
origem pagã, e pelo fato de ser uma festa um tanto obscena, a relação entre a
Igreja Romana e o carnaval nunca foi amigável. No entanto, o que prevaleceu por
parte da igreja foi uma atitude de tolerância quanto à essa manifestação, até
porque a liderança da igreja não conseguiu eliminá-la do calendário. A solução,
então, foi: se não pode vencê-los, junte-se a eles.
Daí, no século
XV, a festa da carne, por assim dizer, foi incorporada ao calendário da igreja,
sendo oficializado como a festa que antecede a abstinência de carne requerida
pela quaresma: Por fim, as autoridades eclesiásticas conseguiram restringir a
celebração oficial do carnaval aos três dias que precedem a quarta-feira de
cinzas.
Como se vê, a
igreja não instituiu o carnaval; teve, porém, de o reconhecer como fenômeno
vigente no mundo em que ela se implantou. Sendo em si suscetível de
interpretação cristã, ela o procurou subordinar aos princípios do Evangelho;
era inevitável, porém, que os povos não sempre observassem o limite entre o que
o carnaval pode ter de cristão e o que tem de pagão.
Apenas no século
XV, provavelmente movido pelo sucesso popular da festa, o Papa Paulo II a
incorporou no calendário cristão. Aliás, Paulo II foi mais longe, chegando a
patrocinar toda uma rica celebração antes do advento da Quaresma. Não apenas o
carnaval popular foi organizado pelos papas.
A tentativa da
Igreja Católica Romana na cristianização do carnaval e sua atual justificativa
é totalmente infeliz, pois não existe uma referência bíblica sequer favorável
ao seu argumento. Pelo contrário. Existe todo um contexto bíblico
explicitamente contrário à essa manifestação popular.
O carnaval é um
exemplo real da sobrevivência do paganismo, com todos os seus elementos
presentes. É a explicita manifestação das obras da carne: adultério,
prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias,
emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices,
glutonarias, e coisas semelhantes. O apóstolo Paulo declara inequivocamente que
os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus (Gl 5.19-21).
Assim sendo, o
carnaval tem sua origem em rituais pagãos de adoração a deuses falsos.
Trata-se, por isso, de uma manifestação popular eivada de obras da carne,
condenadas claramente pelas Sagradas Escrituras. Seja no Egito, Grécia ou Roma
antiga, onde se cultua, respectivamente, os deuses Osíris, Baco ou Saturno, ou
hoje em São Paulo, Recife, Porto Alegre ou Rio de Janeiro, sempre notaremos
bebedeiras desenfreadas, danças sensuais, música lasciva, nudez, liberdade
sexual e falta de compromisso com as autoridades civis e religiosas.
Por isso, o
verdadeiro cristão/evangélico deve se abster de toda e qualquer forma de
participação dessa festa mundana, carnal e diabólica.
A igreja jamais
pode ser omissa quanto a esse assunto. O cristão deve ser sábio ao tomar sua
decisão, sabendo que: Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo,
segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos
da desobediência. Entre os quais todos nós andávamos nos desejos da nossa
carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza
filhos da ira, como os outros também. Mas Deus, que é riquíssimo em
misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em
nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e
nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais,
em Cristo Jesus (Ef 2.2-6).
Se o amigo
leitor se diz evangélico/cristão, e admira o carnaval, com certeza anda não
teve um novo nascimento e nem se libertou de seus desejos carnais, ou seja,
ainda não nasceu de Deus e, por conseguinte, ainda não faz parte dos salvos e
separados por Deus para a vida eterna.
Assim está
escrito: “Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito
mortificardes as obras do corpo, vivereis” (Rm 8.13).
É o que tem a
dizer,
Eudes Borges